Alice, a (quase) vereadora mais votada e sem mandato, mostra que nem tudo está perdido

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Alice, a (quase) vereadora mais votada e sem mandato, mostra que nem tudo está perdido
Foto: Pedro Piegas (Diário)

À frente da segunda edição do Sala de Debate, que é veiculado na TV Diário (canais 26 e 526 da NET), tive a oportunidade de conhecer aquela que foi o maior fenômeno eleitoral da disputa municipal de Santa Maria: a psicóloga Alice Carvalho. Uma jovem negra, de 25 anos, filiada ao PSol. Quando as urnas começavam a ser abertas, ainda em 15 de novembro, em uma eleição modificada (em todas as formas) por causa da pandemia, veio a surpresa: tínhamos uma mulher negra – ainda que com aparência de menina – com impressionantes 3,6 mil votos. Sem fiador, padrinho e dinheiro para campanha, Alice deixou para trás uma gama de políticos tradicionais já consolidados.

Teríamos nela alguém que iria estremecer as bases do poder Legislativo com uma fala sem qualquer vício corporativo, ou preocupada em agradar aos donos do poder.

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TÁTICA ARRISCADA

Porém, a política, com sua propriedade intrínseca de não possibilitar oxigenação e a chegada de sangue novo, veio e derrubou todas as expectativas: Alice não seria eleita. Ao tentar bater de frente com as regras do sistema político-partidário, ela e o partido dela cometeram erros estratégicos, ainda que pudessem ser assumidos, que culminariam com o fracasso deles.

O primeiro pecado capital foi não preencherem a lista de candidatos à vereança, o que por si só reduziu drasticamente as possibilidade de o partido pontuar. Ou seja, fazer votos.

O PSol foi para o front com apenas três candidatos. Não foi uma campanha, foi uma resistência. A tática deu no que deu, o previsível: o partido não teria o ineditismo de uma cadeira no Legislativo local. Por uma questão de cálculo e de regra do jogo eleitoral, ainda que tenha sido a mais votada, Alice e seus 3,6 mil votos foram ceifados de ingressarem na Casa do Povo.

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METRAGEM

Alice poderia estar dentro da Câmara no próximo mês. Mas não. A régua da cobrança junto ao Executivo, bem como a dinâmica dentro do próprio Legislativo teriam uma metragem interessante.

A escolha dela em não optar por uma sigla que a colocasse dentro do mundo político-partidário, com mandato, é explicada como uma tentativa – ainda que utópica e romantizada – de mudar a essência do que é a construção do sistema de siglas. Ou seja, distantes do fisiologismo e das práticas do toma-lá-dá-cá. Fazer da política um local de ambiência pulsante com a participação popular, e não apenas em época de eleição. É um exercício quase fictício, mas nobre de se tentar.

Ainda que eu não simpatize com PSol, a fala da Alice traz com ela o entendimento esquecido – por homens públicos e sociedade de forma geral – que ainda há espaço, sim, na política e na vida para esperança e também para sonhar. Mesmo que se diga que “a moralidade não se legisla”, Alice, a vereadora sem mandato,de certa forma nos lembra que a política não se faz apenas em gabinetes e dentro dos poderes constituídos.

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